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11 de ago. de 2013

Um banho quente

Há tempos não escrevo. Nem aqui e nem em qualquer lugar. Licença, um tempo sabático? Sei lá. 
Meses atrás era por falta de tempo. Hoje tenho tempo, mas não tem surgido nenhuma vontade de escrever. Assim, simples. Escrever um texto é, para mim, algo bom. É, antes de tudo, um modo de conversar comigo mesma. Enquanto escrevo, penso e discuto comigo o assunto, o texto, a forma, o argumento, etc. É, entretanto, uma exposição: de argumentos, de pensamentos, de mim. Para dois ou três. Às vezes para ninguém. Ou, algumas vezes, para várias pessoas. Essa exposição é uma faca de dois gumes. Hora faz bem. Hora nem tanto. Às vezes é imperceptível, às vezes afugenta.
Todavia, não acredito que seja por receio ou por desgosto da exposição que a vontade de escrever sumiu. Talvez a falta de tempo tenha me habituado a ficar distante? Também não acredito nessa hipótese. Outra: não ando pensando muito. Essa é bem possível. Não, eu não deixei de ler o jornal e de pensar a respeito das notícias. Também não deixei de pensar sobre a vida cotidiana. Mas do exercício de pensar até a construção de argumentos para escrever há um longo percurso. E, provavelmente, foi nesse percurso que me perdi.
Hoje acordei e logo lembrei de um texto que escrevi no ano passado, no dia dos pais. Pensei depois que nesse meio ano que se passou foi o tempo que menos escrevi e, coincidência ou não, menos chorei a ausência do meu pai. Não deixei de senti-la, apenas não a expus, nem ao menos para mim. Foi aí que comecei a pensar sobre a exposição. Será que tenho ficado mais retraída? Acho que sim.
Esse tem sido um ano difícil. Complicado em tantos aspectos que prefiro usar "difícil" para não escrever "ruim". Foi nesse ano um dos períodos que mais precisei ligar para o meu pai e perguntar "e agora?". Não precisava que ele viesse me resgatar, resolver os meus problemas. Mas precisava, urgentemente, que ele dissesse que tudo ia ficar bem. Afinal, "tem o meu DNA". Precisava ouvir dele que esse é o mundo, que é assim que as coisas acontecem e que eu precisava aprender a lidar. Precisava ouvir algum conselho que desse uma direção, um norte, frente aos percalços ou até mesmo frente às oportunidades.
Não fiquei sem rumo. Mas foi indiscutivelmente mais difícil encontrá-lo. 
E quando podia, por acaso eu ouvia o que ele tinha a dizer? Nem sempre. Porém, ser filho (a) não é mais ou menos isso? A mãe diz para levar uma blusa pois vai esfriar. E qual é a função do filho? Não levar, passar frio, reclamar e chegar a conclusão que a mãe tinha razão. "Na próxima vez vou escutá-la". Ledo engano. Chegará o dia que ela dirá "leve o guarda-chuva porque vai chover" e você voltará ensopado para casa. Não sei qual é a lógica que nós filhos temos, mas insistimos em aprender errando - apesar dos inúmeros conselhos.
Então por que estou reclamando a ausência dos conselhos do meu pai? Simples. Porque quando você não leva o guarda-chuva, chega em casa e sua mãe diz "tome um banho quente para se esquentar". Você sabia que precisava de um banho quente. Mas essa frase já é metade do aquecimento necessário.

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