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21 de jun. de 2013

E nem é eleição. Imagina se fosse...

Moro em Guarapuava há 6 anos. Já reclamei. Já briguei. Já me acostumei (com algumas coisas). Já conheci muita gente boa. Já percebi significativas mudanças na cidade. Não, nenhuma dessas relacionada com a troca de vereadores e prefeitos. 
De toda essa mudança, acreditei que essa semana seria a maior. As ruas de todo o Brasil estão tomadas de insatisfeitos. *Sempre haverá espaço para questionar os motivos, as segundas, terceiras e quartas intenções dos protestos. Mas não é exatamente sobre isso que escrevo hoje.* E essas manifestações poderiam chegar, de fato, em Guarapuava? 
Em pouco tempo surgiu o convite de um amigo para o evento aqui. Assim que vi, já confirmei presença. Será sábado, às 10h. "É um movimento sem causas" dizem críticos que afirmam ou temem ser um movimento vazio. Talvez possam até considerar que grande parte dos manifestantes não saibam o motivo, mas não acredito que se pode dizer que não tem causa. É fácil encontrar: saúde, educação e segurança pública - serviços caros e de baixíssima qualidade; transparência institucional - adicionam leis para esse fim, e a prática?; corrupção - será que precisa escrever mais do que já vemos todos os dias nos jornais? E, pior, aquilo que nem sabemos?; impunidade - idem; PEC 33 e 37 - nem me arrisco a começar um texto a respeito. Poderia continuar a escrever. Poderia lembrar da Copa e dos gastos. Poderia protestar por uma CPI dos Estádios. Poderia protestar por transparência eleitoral. Poderia escrever por horas e não faltariam motivos para protestar no Brasil.
Tudo certo, né? Só fazer cartazes e esperar sábado. E por que não fiquei surpresa quando as coisas não transcorreram tão bem por aqui? Os manifestantes - no espaço do evento no Facebook - dividiram-se em três subgrupos: os que queriam um protesto; os que queriam um protesto contra os Carli (e defendiam os Silvestre); e os que queriam um protesto contra os Silvestre (e defendiam os Carli).  Assim, os dois últimos grupos estavam lutando por um protesto exatamente pelo motivo que se (deveria) protestar por aqui: o coronelismo
Aqui são basicamente três "grupos" políticos: Mattos Leão (enfraquecido nos últimos anos, mas continuam em cargos); os Carli (ex-prefeito, Fernando Ribas Carli; seu primogênito foi deputado estadual, mas bebeu, dirigiu, matou duas pessoas, continua impune; Bernardo, o filho mais moço, não foi eleito, mas vive lá na Assembléia!; e muitos parentes, amigos, parceiros e comparsas); e os Silvestre (o atual prefeito, Cesar Silvestre Filho, é neto de ex-prefeito. A família é da política desde sempre. O pai é deputado federal, o Cesar Silvestre, é Secretário do Estado do Paraná; e muitos parentes, amigos, parceiros e comparsas).
Desses grupos, destaco os Carli e Silvestre que estão polarizando as disputas por aqui. O mais interessante é que ambos são "parceiros" do governador do Paraná. O PSDB aqui é Carli. Mas o Cesar Filho sempre conta como é amigo e próximo de Richa - ao que soube, o governador foi seu padrinho de casamento - e o Silvestre-pai está no governo Richa desde que começou. Assim, afora um ou outro sobressalto durante as eleições, o governo estadual não tem "problemas" por aqui.
Voltando ao protesto: claro que existem motivos - e de sobra - para protestar em Guarapuava. Os motivos que citei também se aplicam ao governo local. Tanto no atual, como no anterior. Também há questões específicas, como o aumento do salário (dele) que o Silvestre nem esperou passar o primeiro mês de governo para fazer; o "190 km/h é crime" do Fernando Filho. E muito mais. 
Porém, ao invés de debater um protesto, começou uma troca de acusações. Como se dizer "o meu é melhor que o seu" não fosse coisa de criança que depois vai gritar "eu vou contar tudo para a minha mãe!". 
No final das contas, o evento vai acontecer. Mas se depender do desejo dos que se sentem Carli ou Silvestre o bastante para as severas acusações e árduas defesas, será bem ao espírito político guarapuavano: dividido, com um debate tacanha, repleto do coronelismo e numa representação das forças políticas locais - muito distante da representação do povo. Não acho que todos pensem assim e que irão se comportar desse jeito. Todavia esses grupos que estão lá em defesa de seus coronéis fazem tanta algazarra que podem, sim, invadir e baixar significativamente a qualidade da manifestação.
Esses dias eu li - não lembro o autor - que não podem existir jovens de direita. Eu entendo o pensamento, apesar de não concordar. Penso que os jovens podem ser de direita, esquerda, centro ou extremo. Só não acredito que podem muita coisa quando só desejam reproduzir o estado das coisas.

*E quem pensar "mas se fosse em SMI você estaria brigando!": não, não estaria. Eu defendi posições na última eleição. Não me escondi em momento algum e tive meus "arranca-rabos" via Facebook. Mas em momento algum estive ali para gritar "o meu é melhor que o seu". Eu não tinha e não tenho "o meu". Debati política. Ataquei? Com certeza. Ainda mais quando não me faltava oportunidade - as campanhas políticas precisam se atualizar. Foi-se o tempo em que as notícias dos tribunais corriam apenas entre os operadores do direito e seus clientes. E quando muito rolava feito boato sem qualquer explicação. E não nego de forma alguma que tive, sim, muito gosto em escrever tantas as vezes foi preciso até que se admitisse: o Polita teve a sua candidatura indeferida porque era ficha suja. Foi pessoal? Também, mas foi político, foi posicionamento. Eu não voto em ficha suja e não acho legal sonegarem informações importantes da população. Em momento algum defendi bandeiras partidárias e - o que acho estranho - vesti a "camisa" de uma pessoa. Quem eu critiquei, foi porque EU achei que deveria, porque EU não concordava, porque EU quis. Não fiz para defender ninguém. Não recebi nada pelo que fiz. Se um dia trabalhar em uma campanha, faço questão de esclarecer isso antes de qualquer outra palavra minha. Eu não empresto o meu nome à toa. Não concebo a ideia de dizer "sou Cláudio", "sou Nélio", "sou Polita", "sou Cesar" ou "sou Fernando". Sou Monique Hellen Paludo.